"Às vezes as pessoas ficam zangadas comigo porque não lhes dou dinheiro. Eu então digo, se querem trabalhar, eu lhes darei trabalho. Darei um emprego e tomarei conta de você. Mas um homem não pode evoluir com presentes apenas, só com oportunidades. Onde você encontrar uma criança que queira aprender mas não encontra uma boa escola ou um homem que queira trabalhar e melhorar sua vida, mas não consegue encontrar emprego para ajudar sua família, é aí que eu preciso ajudar. O trabalho traz auto-confiança."
[Haile Gebrselassie]
Haile Gebrselassie completa 38 anos nesta segunda-feira, dia 18 de abril. Porém, a comemoração foi antecipada. Neste domingo, após meses de desapontamento por causa das seguidas lesões, o atleta etíope voltou a vencer uma corrida. Haile cruzou a linha de chegada da Meia-maratona de Viena em 1h00min18s.
Gebrselassie nasceu numa família de dez filhos na pequena Asella, na província de Arsi, nos altiplanos da Etiópia. Criança pobre criada no campo, numa fazenda de plantação de arroz sem eletricidade nem água corrente, ele costumava correr dez quilômetros entre sua casa e a escola todas as manhãs, fazendo o trajeto de volta toda tarde. Isto o fez ter uma postura característica como corredor, com o braço direito dobrado num ângulo como se estivesse carregando ali os livros escolares. Em sua primeira corrida, aos 16 anos, uma prova de 1500m contra corredores mais velhos, ele venceu e recebeu como prêmio um calção e uma camiseta.
Casado e com três filhos, o homem que venceu 108 corridas em 56 cidades diferentes permanece comprometido com seu povo, a maioria do qual vive na extrema pobreza. Seus negócios na Etiópia natal empregam 400 pessoas e incluem dois hotéis, uma academia de ginástica, um cinema e uma revendedora de automóveis. Ele também abriu e sustenta duas escolas, frequentadas por 1200 crianças, que estudam com computadores e equipamento de laboratório de pesquisas. Mais de 80% destas crianças recebem instrução de alto nível, contra os 10% normais da sociedade etíope como um todo.
Haile tornou-se famoso na mídia global e entre o público geral em 1996, quando conquistou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Atlanta, estabelecendo nova marca olímpica (27m07s) para a prova. A pista dura do estádio olímpico, construída num material adequado especialmente para os corredores de velocidade, machucou seus pés e ele não pôde concretizar seu sonho de competir e vencer também nos 5.000 m, como seu ídolo da juventude, Miruts Yifter, fez nas Olimpíadas de Moscou dezesseis anos antes.
Em 1997, mais uma medalha de ouro nos 10.000 m do Mundial de Atenas, sua terceira consecutiva nesta prova em mundiais, e novo recorde mundial dos 5.000 m em Zurique (12m41s). Os anos de 1998 e 1999 viram Haile estabelecer cada vez mais sua supremacia nas provas de fundo em pista, quando venceu a Golden League e quebrou mais quatro recordes mundiais em pista coberta e aberta, sendo o principal deles os 10.000 m que sua nêmesis no esporte, o queniano Paul Tergat, havia retirado dele no ano anterior. Gebrselassie e Tergat tiveram árduas disputas nos 10.000 m, um contra o outro e em corridas separadas, mas a mais famosa delas viria no ano seguinte, em Sidney.
No ano 2000, ele mais uma vez liderou o ranking de fundistas, vencendo todas as provas das quais participou, nos 5.000 e 10.000 m rasos. A mais sensacional delas, e que o transformou no terceiro atleta na história em vencer esta prova em duas Olímpiadas - depois de Emil Zatopek e Lasse Viren - foi a final dos 10.000 m nos Jogos Olímpicos de Sidney contra Tergat, seu grande adversário e demais quenianos, na mais apertada chegada de uma final olímpica nesta distância.
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