sexta-feira, 22 de outubro de 2010

O ATLETA VEGETARIANO (*)

Carl Lewis

Carl Lewis é
considerado um
dos atletas
mais rápidos
do mundo. Em
1991, bateu o

recorde
dos
100 metros
com um tempo
de 9,86 segundos.
É o maior medalhista
olímpico de todos
os tempos. Carl
Lewis é vegano.





* Priscila Di Ciero - Nutricionista

O consumo de dietas vegetarianas tem sido associado a muitos
benefícios à saúde, incluindo menores taxas de mortes por doenças
cardiovasculares, diabetes e certos tipos de câncer (GIOVANNUCCI et. al.,
1994; THOROGOOD et al., 1994; FRASER et al., 1995) e baixo risco de
dislipidemia, hipertensão e obesidade (APPLEBY et al., 1995). De modo
similar, os benefícios múltiplos de dietas vegetarianas sobre a melhora da
aptidão física e da performance têm sido analisadas ao longo dos anos.
HANNE et al (1986) demonstraram não existir diferenças significativas
nas variáveis: aptidão física, antropométricas, metabólicas (incluindo
capacidade aeróbia e anaeróbia), força, função pulmonar e níveis séricos de
proteína e hemoglobina entre atletas ovo-lacto-vegetarianos, lacto-vegetarianos
e vegetarianos. Esses resultados corroboram os apresentadados por RABEN
et al. (1992) que demonstraram não haver diferenças na performance física de
atletas de resistência quando estes são alimentados com dietas vegetarianas
ou não vegetarianas durante um período de 6 semanas.
Os valores hematológicos, antropométricos e metabólicos de mulheres
vegetarianas fisicamente ativas foram comparados aos de mulheres não
vegetarianas fisicamente ativas. Embora as vegetarianas tivessem valores de
glicose sanguínea e colesterol significativamente menores, não houve
diferença entre os grupos na capacidade cardio-respiratória submáxima ou
máxima e no eletrocardiograma durante teste progressivo em esteira (NIEMAN
et al., 1989).
A nutrição representa um determinante crítico da resposta imune, e
dados epidemiológicos sugerem que deficiências nutricionais alteram a
imunocompetência e aumentam o risco de infecções. RICHTER et al (1991)
demonstraram que a função imune de atletas que consomem uma dieta rica
em proteína animal, é similar à de atletas que consomem uma dieta lacto-ovovegetariana.

· ALTERAÇÕES HORMONAIS
Alguns estudos sugerem que uma proporção significativa de atletas
amenorréicas são vegetarianas (ROSE et al., 1991; PEDERSEN et al., 1991).
No entanto, existe evidência crescente de que a baixa ingestão energética, e
não a qualidade da dieta, é a principal causa de oligomenorréia em atletas e
que, o equilíbrio positivo, normaliza o perfil hormonal e a menstruação.
O esforço para manter ciclos menstruais normais deve incluir ingestão
maior de alimentos energéticos e gorduras, redução de fibras e do treinamento
extenuante (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 1997).

· PROTEÍNA
Geralmente as dietas vegetarianas fornecem uma menor quantidade de
proteína que as dietas não-vegetarianas. Embora a qualidade da proteína de
dietas vegetarianas seja adequada para os adultos, as proteínas vegetais não
são tão bem absorvidas como as proteínas animais. Assim, essa regulação
pode ser feita aumentando-se em 10% a quantidade protéica consumida.
Portanto, a recomendação de ingestão para atletas vegetarianos é cerca de 1,3
a 1,8g/ Kg de peso corporal (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 1997).
Embora as dietas vegetarianas sejam mais pobres em proteínas totais, a
ingestão de proteínas tanto em ovo-lacto-vegetarianos quanto em vegans
parece ser adequada (AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 1997). A
adequada ingestão calórica é um importante fator para se suprir as
necessidades diárias de proteínas em atletas.

· CREATINA
A suplementação com creatina foi sugerida como recurso ergogênico
para atletas que realizam sessões repetidas de exercícios de alta intensidade e
curta duração. Indivíduos vegetarianos, quando comparados aos nãovegetarianos,
apresentam menores níveis plasmáticos de creatina
(DELANGHE et al., 1989), porém, isso não reflete diminuição de seu conteúdo
muscular. Em estudo com indivíduos vegetarianos, os níveis teciduais de
creatina estão dentro do normal (115 mmol/Kg).
Um estudo randomizado e duplo-cego foi incapaz de verificar qualquer
efeito da creatina sobre a potência física de atletas vegetarianos (CLARYS et
al., 1997).
SHOMRAT e colabores (2000) suplementaram creatina em vegetarianos
e onívoros por uma semana, e a performance no teste anaeróbio de Wingate
foi determinada antes e após essa suplementação. Os resultados mostraram
que ambos tiveram maior massa muscular e média de força máxima durante os
testes. Porém, o pico de força máxima foi significantemente maior pela
suplementação nos onívoros. Concluiu-se que a ingestão de creatina responde
similarmente no aumento da média de força máxima durante exercício máximo
e curto. É possível que os níveis de creatina (e de fosfocreatina) muscular
antes da suplementação eram similares em ambos grupos.

· VITAMINAS E MINERAIS
A absorção de alguns nutrientes pode ser potencialmente inibida em
dietas vegetarianas pela presença de dois antinutrientes: fitato (grãos), tanino
(chás) e fibra alimentar (principalmente as insolúveis). Mas os alimentos
vegetais também contêm substâncias que aumentam a absorção dietética do
ferro, como a vitamina C e o ácido cítrico que são encontrados em frutas e
vegetais (CRAIG, 1994; AMERICAN DIETETIC ASSOCIATION, 1997).
Atletas vegetarianos podem desenvolver deficiências pela baixa ingestão
de vitaminas B12 e D, riboflavina, ferro, cálcio e zinco, já que boas fontes
destes nutrientes são encontrados em alimentos de origem animal (AMERICAN
DIETETIC ASSOCIATION, 1997). A deficiência da vitamina B12 nos
vegetarianos foi acompanhado pelo aumento da suscetibilidade de algumas
infecções (TAMURA et al., 1999).
Como a necessidade de vitamina B12 é pequena e ela é tanto
armazenada quanto reciclada no corpo, os sintomas da deficiência podem
demorar anos para aparecer. A absorção de vitamina B12 torna-se menos
eficiente conforme o corpo envelhece, e assim, os suplementos podem ser
aconselhados para todos os vegetarianos mais velhos (AMERICAN DIETETIC
ASSOCIATION, 1997).
O ferro, em particular, é um nutriente preocupante, já que em dietas
vegetarianas a sua biodisponibilidade é baixa (AMERICAN DIETETIC
ASSOCIATION, 1997). Entretanto, um estudo realizado com mulheres
australianasm, mostrou que não houve diferença significativa na ingestão de
ferro total e que a concentração sérica de ferritina menor que 12 g/L
(indicadora de baixa reserva de ferro) foi encontrada similarmente entre os dois
grupos. A concentração de hemoglobina não foi significantemente diferente
(BALL & BARTLETT, 1999).
A presença da anemia em vegetarianos é rara (NIEMAN et al., 1989).

· CONSIDERAÇÕES FINAIS
A posição da American Dietetic Association (ADA) é que as dietas
vegetarianas apropriadamente planejadas são saudáveis, adequadas em
termos nutricionais e apresentam benefícios para a saúde na prevenção e no
tratamento de determinadas doenças.
Dietas vegetarianas também podem atender à necessidade de atletas
competitivos. As dietas vegetarianas que atendem às necessidades
energéticas e incluem boas fontes protéicas (por exemplo, alimentos á base de
soja, feijões) podem fornecer quantidade adequada de proteína sem o uso de
suplementos especiais ou suplementos.
Aconselha-se que os profissionais de saúde estejam sempre atualizados
para fornecer orientações aos vegetarianos de modo a maximizar os benefícios
e minimizar os problemas nutricionais que as dietas vegetarianas possam
trazer.

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